Enquanto o táxi corria pela cidade eu pude ver os pingos de chuva caindo sobre tudo, sobre as poças, sobre as pessoas, sobre os carros, prédios, aquela água me parecia tão purificadora que senti vontade de sair daquele táxi e ficar ali mesmo em meio à rua sendo purificada, deixando que a água caísse sobre meu corpo. Logo afastei essa ideia da minha cabeça, eu tinha um compromisso. Olhei no relógio eram exatamente 16:10 eu estava 10 minutos atrasada e o taxista estava fazendo todo possível para que chegássemos logo.
Depois de mais 10 minutinhos cheguei, a chuva que antes era intensa havia se tornado um chuvisco fraco, entrei imediatamente na cafeteira. O lugar estava quente, em outra ocasião eu me sentiria acolhida ali. Ele estava me esperando, sentado numa mesa perto de uma janela imensa, parecia estar impaciente, tentei de um jeito delicado ir até ele, sentei-me e ele fixou os olhos em mim.
- Você está gelada - Ele disse colocando a mão no meu rosto.
- Acho que vou ficar gripada - disse abaixando a cabeça, eu estava tentando me concentrar em algo que não fosse aqueles lindos olhos.
- Vou pedir dois cafés - Ele chamou a garçonete e fez o pedido.
Vieram as xícaras de café e a conversa tomou outro rumo. Começamos então a entrar lentamente no que ele queria me dizer, eu estava tremendo, sabia que não deveria chorar, sabia que esse não era meu papel preferido, eu podia me controlar, eu tinha que me controlar.
- Você sabe que eu vou viajar, daqui a uma semana estarei em Lisboa - Ele disse seco.
- Sim eu sei você já disse. Não que eu esteja com pressa, mas você tem tentando me dizer algo faz 2 dias, eu acordo e você já não está do meu lado, te procuro e a única coisa que encontro é um mero bilhete dizendo que você precisa falar comigo. Horas depois não me atende. Se você quer realmente falar diga, estou aqui pronta pra te ouvir - Eu sabia que tinha sido dura, mas era preciso, eu não queria mas ser enrolada por ele, se meu destino se encontrava nas mãos dele, precisava de uma decisão o mais rápido possível.
- Espero que saiba também que ainda te amo... Mas acho que não estamos mais dando certo, ainda te amo, mas não do mesmo jeito de antes.
Canalha. Fiquei olhando fixamente para rosto dele, procurei algum rastro de arrependimento, de dor, tristeza. Só encontrei naturalidade.
- Eu te amo do mesmo jeito que antes, ou quem sabe até mais do que antes e espero que hoje esteja te amando muito mais que amanhã.
- Júlia...
- Eu ainda não terminei - Dei uma golada no café e tentei respirar - Por mais que meu amor por você seja forte, intenso, verdadeiro, eu não vou pedir que você fique, e nem que me ame. Meu amor até poderia bastar por nós dois, mas não vou te forçar a nada. Vá pra Lisboa e quem sabe nós nos encontraremos algum dia.
- Eu sempre admirei essa sua forma objetiva e sincera de ser. Eu ainda a admiro - Ele passou a mão nos cabelos e fechou os olhos.
- Não me elogie isso só torna mais difícil para mim.
- Eu não quero que seja difícil, mas sei que não pode ser fácil Júlia, mas ainda sim sei que devo lhe dizer a verdade.
- Obrigada pela consideração - Tirei uma nota de 5 reais da carteira, coloquei debaixo da xícara de café e levantei. Eu quis dizer que o amava enquanto olhava pela última vez naqueles lindos olhos, mas lembrei-me que já havia feito isso, e de nada valeu. Virei e sai da cafeteira chamei um táxi então a esperança de vê-lo vindo atrás de mim me invadiu. Olhei pela janela e ela me permanecia sentado, nenhum moviento, nada. Entrei no táxi e fui de volta pra casa, começar de novo, uma nova história não tão objetiva e quem sabe não tão sincera.
(Pauta para 32º edição conto/história do bloínquês)
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
PI PI PI PI DO NADA
O tempo é com certeza o maior mistério do nosso mundo, ao mesmo tempo que ele pode passar devagar e arrastado ele pode mudar duas vidas em ...
-
- Sabe acho que te odeio - Odeia, como assim? - Odiando... Odiando da forma mas triste que alguém pode ser odiado. - Mas porque você me odei...
-
Calei-me, não por não ter mais o que falar calei-me por medo, medo de chorar, de sofrer. Enguli o orgulho, fiz da dor minha companheira e ma...
-
- JÚLIAAAA ! - Oi ? - Sou eu, Victor. - Victor! Ah desculpa, não o reconheci com esse capuz na cara. - Pronto, e agora? - Agora sim, vendo e...
Nenhum comentário:
Postar um comentário